Um mundo sem as teclas de DELETE e SEND
- Time do TheWebGuardian
- 14 de abr. de 2023
- 5 min de leitura

Quando terminei a Faculdade, eu tinha 21 anos, mas já trabalhava desde os 18. Comecei a carreira em um estágio não-remunerado numa Agência de Publicidade. Veja bem – estamos em um momento da história em que as pessoas não tinham internet (nem celular). O aparelho mais moderno era o fac-símile (fax). Depois acabou vindo o BIP (Pager) da Motorola.
Porém, nesta época, já existia o que se chamava Computação Gráfica – a arte de diagramar usando computador. Hoje em dia os profissionais dessa área são conhecidos como “designers”, mas há 30 anos éramos editoradores eletrônicos ou diagramadores.
Ainda não existia a impressão digital, nem gravador de CD/DVD, muito menos pen-drive. Antes de mandar o material para impressão na gráfica, pedíamos prova de prelo no bureau. Os arquivos iam gravados em um dispositivo magnético de armazenamento de dados chamado Syquest ou Zip Drive.
Tempos Mais Desafiadores e Exigentes – mas Mais Empolgantes
A internet agilizou muitos processos, encurtou etapas de produção e eliminou uma série de custos extras. Coisas que antes precisávamos de motoboys para levar e trazer, hoje a gente envia por e-mail ou FTP.
Como não havia internet, não existiam os Bancos de Imagens. Qualquer material gráfico precisava de um ilustrador ou de um fotógrafo profissional. Para fazer um tabloide de ofertas, o fotógrafo tinha que se deslocar para tirar as fotos dos produtos, depois revelar os filmes (porque não existiam câmeras digitais). Então escolhíamos os negativos, escaneávamos e tratávamos as imagens.
Tolerância Zero à Desatenção
Em contrapartida, tudo que produzíamos exigia muito mais atenção e cuidado. Se esquecêssemos de gravar um arquivo no disco ou fechássemos um post-script com defeito, o motoboy perderia a viagem ao bureau (e seu chefe descontaria o custo do contratempo do seu salário).
Se o material voltasse impresso da gráfica com uma imagem pixelizada ou uma fonte incorreta, é por que alguém não revisou a prova e além de tudo fechou o arquivo, mas não salvou as imagens / família tipográfica no disco. Isso muitas vezes custava o emprego...
Mas porque então era empolgante? Porque tínhamos conhecimento de tudo que podia dar errado. Tínhamos de nos certificar diversas vezes que não tínhamos esquecido de fazer nada. E essa vontade de querer que tudo desse certo tornava empolgante o fato de sermos responsáveis por algo.
Desafios e Dificuldades de Ontem...
Para muita gente, certos termos que citei são desconhecidos. Mas faziam parte do que é hoje conhecido como Design Gráfico. Após a chegada da internet, quem se gradua nesta área provavelmente nunca vai saber o que é bureau, fotolito, paste-up... E fico triste por isso, estão perdendo muito conhecimento importante.
Mas o ponto que quero chegar aqui é que nossas menores falhas custavam muito (em tempo, trabalho dobrado e dinheiro). Podiam prejudicar/atrasar o trabalho de um colega, podiam nos custar muitas horas extras, podiam fazer o chefe perder a conta de um cliente importante...
Cada um tinha um cargo e determinadas funções, mas conhecíamos de tudo um pouco, pois a tarefa de um era conectada ao do outro colega. Tínhamos contato direto com todas as fases – da produção ao produto final. Este tipo de know-how hoje em dia é raríssimo. E faz falta.
Desafios e Dificuldades de Hoje
As supostas dificuldades e desafios que um profissional enfrenta, seja qual for a carreira escolhida ou área de atuação, devem ser motivos para estudar cada vez mais – não somente especializar-se naquilo que é de sua competência.
Além de estar a par das informações e notícias da atualidade, recomendo e acredito ser de muita valia estudar e se interar de tudo que veio antes de sua época e que tem relação com sua área.
Os golpes e ameaças cibernéticas da atualidade são apenas técnicas usadas para se aproveitar de erros que continuam sendo cometidos... São meios para tirar proveito de falhas recorrentes, para fazer uso da falta de atenção aos detalhes ou da pressa (pressão) excessiva e aplicar então um golpe.
São maneiras de explorar comportamentos sociais padronizados ou repetitivos. É preciso tempo e conhecimento para se fazer algo bom (pro bem e pro mal).
Um mundo sem as teclas de DELETE e SEND
Antes do computador, o mais próximo que chegávamos de um texto “digitado” era usando uma máquina de escrever. O profissional habilitado a trabalhar com elas chamava-se datilógrafo. E como todo trabalhador, tinha que fazer um curso e dominar suas habilidades.
Se cometesse um só erro, tinha que consertar usando borracha, ou o mais modernizado “Liquipaper”. Tinha que pegar uma nova folha, prestar mais atenção e começar do zero. Você viveu (ou consegue se imaginar) nesse mundo que não tinha a tecla “DELETE”?
Sobrecarga de Informações e suas consequências
Tudo está tão mais fácil, rápido, cômodo e prático. Digitamos onde bem entendemos, quando queremos e somos respondidos (ou esperamos receber respostas) em questão de segundos.
Informações são trocadas com tanta velocidade que não temos nem tempo (ou paciência) de ler com atenção.
Este overload de informações e estímulos que o uso abusivo de smartphones e as muitas horas diárias que as pessoas despendem na internet são objeto de muitos estudos e nos oferece estatísticas alarmantes.
O cientista cognitivo Herbert Simon fala sobre isso: “O que a informação consome é a atenção. A abundância de informações significa pobreza de atenção.”
Talvez você mesmo descubra que faz parte desses números:
Parece brincadeira, mas é verdade: segundo pesquisas da Microsoft, nosso período de foco de atenção diminuiu de 12 segundos (quando surgiu a internet em 2000) para 8 segundos (menos tempo do que o foco de um peixinho dourado)!
A maioria das pessoas pega o celular no mínimo 100 vezes ao dia. Isto, por sua vez, deu nome à uma nova doença – Síndrome da Vibração Fantasma (Phantom Vibration Syndrome) – a percepção errônea de que o celular está tocando ou vibrando quando em realidade não está
As pessoas não lêem mais, elas “passam os olhos” pelas informações (conhecido como Skimming). Isto leva à não-retenção de dados e consequente não assimilação/obtenção de conhecimento. Apenas uma média de 25% do total de informações (palavras) em um texto é verdadeiramente lida e processada
Num mundo cada vez menos exigente, estamos cada vez mais preguiçosos
Parece que quanto menos precisamos fazer por nossa conta, mais acomodados e preguiçosos ficamos. Preferimos usar e recorrer de formas cada vez mais abreviadas para ler, escrever e acessar dados e informações. Você já se deu conta que:
O uso de emojis é a forma mais comum para definir / expressar sentimentos e estados emocionais
A utilização de gírias e abreviações de palavras (msg, blz, lol, sds, abs, dps, ctz...) está definindo uma nova linguagem de comunicação
A mensagem de áudio foi criada como forma de evitar o ato de digitar
Os vídeos são a ferramenta preferida para divulgar informações e fazer publicidade
Dá saudades de quando éramos mais proativos, mais independentes, tínhamos mais iniciativa e criatividade. De quando éramos menos ansiosos e estressados – mesmo tudo sendo muito mais exigente.
A esperança de que você tenha lido esse Post por completo é baixa... Mas se você conseguiu chegar ao fim, a intenção é ter deixado um alerta – ter chamado a sua atenção. A internet é um universo muito vasto, mas estamos com a visão comprometida, e cada vez menos realista...
NOS VEMOS NOS PRÓXIMOS POSTS!
Fonte pesquisada: https://countercurrents.org/2021/04/impact-of-social-media-on-our-attention-span-and-its-drastic-aftermath/